Ser ou Não Ser (Narrativas)
Ser ou não ser (existencialista)
Sem saber o que fazer, é que não dava para ficar. Saber ou não saber não cabia aqui e ele refletia qual era o sentido de sua vida. A existência estava em jogo e era muito mais que saber que estava vivo: era saber o propósito de existir em um universo que continha um vazio inexplicável. Mas ele não estava interessado em Física, mas no saber místico da existência. O que ele poderia encontrar nesse terreno que pudesse se sobrepor à existência puramente física? Ele precisava saber, tinha sede de saber. O que estava reservado a ele nessa jornada aparentemente sem sentido. Sua visão se abriu depois que ele conheceu Astor e seu saber transcendente.
Astor era uma figura enigmática, alguém que parecia ter atravessado as fronteiras do conhecido e se estabelecido em um território onde a existência não era apenas um fato, mas uma experiência contínua de descoberta. Ele não falava de fórmulas ou equações, mas de uma conexão íntima com o universo, uma espécie de diálogo silencioso com o que ele chamava de “o todo”. Para Astor, existir não era uma questão de estar presente no mundo físico, mas de participar de uma dança cósmica, onde cada movimento, por mais insignificante que parecesse, tinha um propósito maior.
Ele ensinou que o vazio que tanto perturbava não era uma ausência, mas uma plenitude disfarçada. O vazio era o espaço onde todas as possibilidades coexistiam, onde o ser e o não-ser se fundiam em uma única realidade. “Existir”, dizia Astor, “é escolher entre essas possibilidades, é dar forma ao que ainda não tem forma.” E essa escolha não era racional, mas intuitiva, uma resposta ao chamado do universo que ecoava dentro de cada um.
Essa perspectiva transformou a busca do protagonista. Ele percebeu que a questão “ser ou não ser” não era sobre a existência física, mas sobre a essência. Ele não precisava mais se preocupar em saber se sua vida tinha um sentido pré-determinado; em vez disso, ele poderia criar seu próprio sentido por meio de suas escolhas e ações. A existência, então, se tornou uma obra de arte, uma expressão única de sua essência no mundo.
Astor o levou a explorar o saber místico, não como uma fuga da realidade, mas como uma forma de mergulhar mais fundo nela. Através de meditações, rituais e reflexões profundas, ele começou a sentir uma conexão com algo maior, algo que transcendia a materialidade do mundo. Ele percebeu que o propósito de existir não estava em algum lugar distante, mas dentro de si mesmo, na maneira como ele escolhia viver cada momento.
A jornada, que antes parecia sem sentido, agora se revelava como uma aventura infinita. Ele não estava mais preso à angústia de não saber; em vez disso, ele abraçou a incerteza como parte essencial da existência. Ele entendeu que o vazio inexplicável era, na verdade, o espaço onde ele poderia criar seu próprio significado, onde ele poderia ser tanto o artista quanto a obra.
E assim, a questão “ser ou não ser” deixou de ser um dilema paralisante e se transformou em um convite para viver plenamente. Ele não precisava mais de respostas definitivas, porque a própria busca era a resposta. Existir, ele descobriu, era estar em constante diálogo com o mistério da vida, aceitando que, às vezes, o silêncio do vazio era a mais pura expressão de tudo o que é possível.
Ser ou não ser (ética)
Estava meio escura aquela rua onde Venância caminhava um tanto apressada. Tinha horário com o dentista antes de seguir para a faculdade de enfermagem que cursava havia um ano e meio. Era só virar a próxima rua, quando então pegaria à esquerda e, algumas casas depois, estava o consultório da Dra. Fernanda. Mas, de repente, ela ouve um barulho e, quando olha para trás de soslaio, vê um homem sendo jogado para fora de um carro. Tudo muito rápido e ela se amedrontou de imediato numa reação bastante natural e comum. Ela se escondeu ali e viu o carro passar em alta velocidade em fuga. Sorte que não a viram, pois ela havia sido bem hábil para se ocultar ali naquele vão. Estava escuro e ela voltou-se para a rua onde aquele homem havia sido jogado. Não havia viva alma e ela ficou em um dilema de agir ou não agir diante do fato que ela havia presenciado. Sem pensar muito, correu para a vítima quase que assinando embaixo que ela havia escolhido bem a sua futura profissão, ao mostrar coragem e compaixão para com aquela pessoa. “Estaria ele vivo?”, ela se perguntou ao se aproximar do corpo caído. E agora? Tinha consulta no dentista e tinha de agir rápido.
A mente de Venância girava como um carrossel. Por um lado, a urgência de sua consulta pulsava em suas veias, como um lembrete constante da vida que a aguardava. Mas, por outro lado, a figura vulnerável diante dela fazia seu coração acelerar de uma forma diferente. O homem estava caído, inerte, e um instintivo impulso para ajudá-lo o chocava como um trovão. “Estava ele vivo?” A pergunta ecoava em sua mente com uma insistência desesperadora.
Sem pensar muito, ela se agachou ao lado da vítima, colocando a bolsa de lado. A luz do lampião na esquina iluminava seu rosto, e ela percebeu que o homem tinha um corte na cabeça e respirava com dificuldade. Venância lembrou das aulas de primeiros socorros e o que aprendera sobre avaliação primária. A ética a envolvia como um manto — a escolha de agir era um reflexo do seu caráter, mesmo que isso significasse ignorar um compromisso pessoal.
Seu coração disparou novamente ao perceber que a dor que ela sentia era mais existencial do que imediata. O que realmente significava ser uma profissional da saúde? O diploma, os anos de estudo ou, principalmente, a habilidade de fazer a coisa certa quando ninguém estava olhando? Era a própria essência do “ser ou não ser” que ela havia estudado nas aulas de filosofia. A pergunta que atormentava o ser humano desde tempos imemoriais: a obrigação moral de agir em face da injustiça.
“Se eu não agir, o que significa isso para mim? Que tipo de enfermeira eu serei?”, questionou-se, enquanto seus dedos tremiam. Ela pôde perceber que sua escolha não era apenas sobre auxiliar aquele homem. Era sobre quem ela se tornaria naquele instante de crise. Com um suspiro profundo, tomou uma decisão. O dentista teria que esperar.
“Ei, você está bem?” Sua voz soou hesitante e firme ao mesmo tempo enquanto ela examinava o homem. Ele não respondeu, mas sua respiração ofegante era um sinal de que ainda havia esperança. Venância rapidamente se virou para buscar seu celular. Precisava chamar uma ambulância. Ao fazer isso, lembrou-se da importância de ser uma voz em meio ao silêncio do mundo, de se pronunciar quando a injustiça se impunha.
Enquanto esperava pela ajuda, seu olhar se fixou no rosto do homem. Havia vulnerabilidade em sua expressão, uma fragilidade que desnudava a condição humana. Ali, em um momento que poderia ter sido o doce consolo da indiferença, ela estava diante de uma escolha moral: permanecer anônima e segura em seu plano previsível ou se envolver, enfrentar o medo e, por consequência, reafirmar sua humanidade.
Venância tomou a mão dele, segurando-a com firmeza. “Você não está sozinho”, murmurou, a certeza crescendo dentro dela de que a compaixão era a única forma de justiça que poderia oferecer naquele momento. Assim, a luz da ética começou a brilhar em meio à escuridão.
Quando a sirene da ambulância finalmente soou ao longe, Venância sentiu um alívio em seus músculos, mas sua mente estava alerta. O ato de escolher havia definido seu caráter. Ela não apenas buscava a cura do corpo, mas também a redenção da alma, tanto a sua quanto a do homem que agora respirava uma respiração frágil, mas esperançosa. Ser uma profissional da saúde tinha mais a ver com isso do que qualquer certificado poderia atestar. E, assim, enquanto aguardava a ajuda, o dilema dela se transformou em um princípio: agir pode ser assustador, mas não agir, esse sim, seria o verdadeiro fracasso.
Ser ou não ser (social)
Romeu não só tinha nome de herói dramático, mas tinha sangue nas veias. Era um líder comunitário de uma comunidade sofrida que alardeava melhores condições para todos os residentes nela. Romeu não era só porta-voz da comunidade, mas uma voz emblemática que gritava em alto-falantes o que eles da comunidade deveriam fazer para promover uma união inabalável com o objetivo de fortalecer a luta por melhores condições de vida de todos. Uma hora, Romeu incitava à revolução; em outra, ele concebia ideias pacíficas de mudanças. Mas, como líder, ele precisava se posicionar e se deixava levar também pelas oscilações de humor e da emoção. Assim, ele angariava apoio em um momento de pessoas com espírito guerreiro quando incitava à revolução, mas, por outro lado, ele atraía apoio de pessoas em outros momentos que eram mais brandas e conformistas. Ele queria dar um passo aqui, mas era motivado também para dar um passo ali. E o que fazer, além de arrancar os cabelos?
Romeu vivia no limiar de uma encruzilhada histórica, onde cada decisão que tomava ecoava como um trovão na vida daqueles que o seguiam. A comunidade, cansada de séculos de opressão e invisibilidade, olhava para ele como um farol em meio à tempestade. Mas Romeu sabia que ser um farol não significava apenas iluminar o caminho; significava também suportar o peso das expectativas, das dúvidas e dos medos de todos aqueles que dependiam de sua luz.
A questão que o atormentava era simples em sua essência, mas complexa em suas ramificações: ser ou não ser o agente da mudança radical, ou conformar-se com a lentidão das transformações graduais. Seria ele o líder que incendiaria os ânimos e levaria seu povo à revolução, arriscando tudo em nome de uma liberdade que poderia custar sangue e lágrimas? Ou seria ele o líder que, com paciência e estratégia, buscaria reformas dentro do sistema, mesmo sabendo que isso poderia significar a perpetuação de algumas injustiças por mais tempo?
Essa dualidade não era apenas uma questão filosófica para Romeu; era uma realidade palpável que se refletia no dia a dia da comunidade. De um lado, havia os jovens inflamados, cujos olhos brilhavam com a promessa de uma batalha épica contra os opressores. Eles viam em Romeu um guerreiro, alguém que poderia liderá-los em uma luta que, mesmo que custasse suas vidas, garantiria um futuro digno para as próximas gerações. Do outro lado, estavam os mais velhos, cujas faces marcadas pelo tempo e pela dor carregavam a sabedoria de quem já havia visto muitas lutas fracassarem. Eles preferiam a cautela, a negociação, o caminho que, embora mais lento, prometia menos sofrimento imediato.
Romeu sabia que, independentemente da escolha que fizesse, ele seria julgado. Se optasse pela revolução, seria acusado de ser imprudente, de colocar vidas em risco sem garantia de sucesso. Se escolhesse o caminho da reforma, seria taxado de covarde, de alguém que se conformava com a opressão em troca de uma falsa sensação de segurança. Mas o que mais o atormentava era a consciência de que sua decisão não afetaria apenas a ele, mas toda uma comunidade que dependia de sua liderança.
Em meio a essa turbulência interna, Romeu começou a perceber que a resposta não estava em escolher entre ser ou não ser, mas em entender que ambas as escolhas eram faces da mesma moeda. A verdadeira questão era como equilibrar a rebeldia necessária para desafiar o status quo com a sabedoria de saber quando e como agir. Ele percebeu que a conformidade não era necessariamente uma rendição, mas uma estratégia em certos momentos, assim como a rebeldia não era sempre a resposta, mas uma ferramenta poderosa quando usada no momento certo.
Foi então que Romeu decidiu que sua liderança não seria definida por uma escolha rígida entre ser ou não ser, mas pela capacidade de adaptar-se às circunstâncias, de ouvir sua comunidade e de agir com coragem e discernimento. Ele entendeu que o verdadeiro heroísmo não estava em seguir cegamente um caminho, mas em ter a humildade de reconhecer que, às vezes, o maior ato de rebeldia é resistir à pressão de tomar uma decisão precipitada.
E assim, Romeu continuou sua jornada, não como um herói trágico preso a um destino imutável, mas como um líder que, ao abraçar a complexidade de ser e não ser, conformar-se e rebelar-se, moldava não apenas seu próprio destino, mas o de toda uma sociedade que ansiava por liberdade.
Ser ou não ser (espiritual)
Havia uma comoção em torno da tragédia que abateu a família Green e ainda outras famílias de Seudá. Não havia mais segurança depois da passagem do furacão Steve, o maior que até então havia passado por aquelas plagas. O planeta havia se modificado e trouxera eventos climáticos impensáveis até então. Igal Fenerbaum era um homem religioso que se preocupava com as mudanças de modo geral, mas seu chão era firme, estável e sem mudanças, construído com Torá e mitzvot (boas ações). Havia aprendido bem a lição da Torá, de ficar firme mesmo em tempos trágicos. Agora, no entanto, ele se questionava por que o Todo Poderoso havia deixado que tamanha destruição ocorresse em Seudá. A cidade ficou praticamente sob escombros, com tantas famílias ceifadas da vida, a família Green e tantas outras, um estrago absolutamente incalculável para quem havia sobrevivido e podia contemplar a cara da escuridão, como era o caso de Igal. Ele tentou argumentar com os céus que estava desprovido de fé naquele exato momento. Ela parecia tê-lo abandonado e ele chorou. Derramou grossas lágrimas de angústia e foi ouvido. Um estrondo no céu se fez e Igal estremeceu. “Oh, meu Deus! É o Senhor!”
O medo se apossou dele, mas uma curiosidade incontrolável também. Enquanto as nuvens se aglomeravam carregadas de uma eletricidade palpável, ele se perguntou se o estrondo pertencia a algum sinal ou aviso que ultrapassasse a lógica humana. Em sua reflexão, Igal lembrou-se das histórias que ouvira de sua avó, sobre como a fé poderia, às vezes, se manifestar nas formas mais inusitadas, especialmente em momentos de crise e dor.
“Ser ou não ser”, repetia em pensamento, uma frase que ecoava como um mantra. Ele se via imerso em uma luta interna: deveria abraçar a dúvida que o consumia ou se render àquela centelha de esperança que teimava em ressurgir mesmo nas horas mais sombrias? O dilema o deixava sobrecarregado, e cada lágrima que escorria por seu rosto parecia carregar uma parte desse fardo pesado.
O estrondo se transformou em um eco distante, e Igal, mesmo em meio à incerteza, sentiu um chamado profundo. A vida estava, de alguma forma, pedindo-lhe para continuar, para buscar entendimento na confusão. Ele se lembrou dos ensinamentos que afirmavam que a dúvida não era a antítese da fé, mas seu próprio componente. A dúvida, segundo a tradição, é um espaço sagrado onde a busca por respostas pode florescer.
“Igal, olhe ao seu redor”, disse uma voz suave em sua mente, que ele quase ousou acreditar provir de algo maior. “As ruínas são testemunhas de sua fragilidade e da força dos ventos que sopram pela vida.” A dor é real, mas não é o fim. É um convite à resiliência.”
A beleza da fé estava ali, na possibilidade de renascer entre os destroços. Com um profundo suspiro, ele se deu conta de que não estava sozinho. Os sobreviventes, também petrificados pelo horror, começavam a se reunir, uns apoiando os outros, trocando palavras de conforto e solidariedade. A união na tragédia tornou-se um testemunho tangível da esperança, e Igal sentiu uma chama dentro de si.
Naquele momento, a dúvida não deveria levar à inação, mas sim a uma busca ativa pela conexão, pela recuperação. Havia um poder na coletividade, e era nesse exercício de reconstrução que encontraria pistas para retomar sua fé. Ser ou não ser? Ele decidiu que seria—seria parte de uma comunidade pulsante, mesmo em meio à devastação.
As nuvens no céu começaram a se dissipar, e um raio de sol atravessou a escuridão, iluminando os rostos das pessoas ao seu redor. Igal sentiu que as lições da Torá o acompanhavam não como respostas definitivas, mas como um guia amoroso, lembrando-o de que a fé pode ser um ato diário—um esforço consciente de encontrar luz na sombra.
Assim, o homem religioso se ergueu em meio aos escombros, agora não mais apenas um questionador da presença do Todo Poderoso, mas um buscador, pronto para descobrir o que significava acreditar novamente e como isso poderia, de fato, moldar um novo amanhecer para Seudá.
Ser ou não ser (pessoal)
Pamela e sua personalidade forte. Sempre encarou desafios com o queixo erguido e nariz empinado. Ela sempre confiou muito em sua intuição, tanto é que, agora, no limiar de seus dezoito anos, fincou o pé numa dúvida pessoal que a fez perder o sono e muitos dias de bom humor: ela queria decidir logo se ia fazer um concurso público e ganhar seus trocos para fazer a faculdade de veterinária, ou se deixava levar pela música, uma paixão visceral que a pegou desde seus oito anos de idade e que poderia se tornar uma profissão futura, quem sabe. Pamela se via numa encruzilhada e isso foi até mesmo potencializado pela sua personalidade forte e decidida. Mas, agora, parecia não ter muito equipamento para lidar com isso. Sua ansiedade chegou aos píncaros, elevando sua irritabilidade ao extremo. Estava difícil lidar com ela, era o que tinha a dizer sua amiga pessoal Beatriz. “O que será que está batendo mais forte no coração da Pamela?”
A verdade é que, para Pamela, a música era mais do que uma paixão; era uma extensão de sua alma, um lugar seguro onde ela poderia se perder e se encontrar ao mesmo tempo. Desde pequena, ela se lembrava de noites em que se trancava no quarto, cantando em voz alta suas canções favoritas, como se o mundo lá fora não existisse. No entanto, a realidade se impunha de forma implacável. A pressão para escolher um caminho, traçar um futuro e corresponder às expectativas de sua família e amigos se tornava cada vez mais opressiva.
Ela se perguntava: ser ou não ser? Ser a filha que se formaria em veterinária para dar orgulho à mãe que sempre quis um diploma na parede, ou ser a artista que arriscaria tudo em busca de um sonho intangível? As duas opções pareciam promissoras, mas também carregadas de incerteza.
Beatriz, sempre a voz da razão, tentava acalmá-la. “Pamela, você não precisa decidir agora! Vai ter tempo. Mas, para Pamela, cada dia que passava sem uma decisão parecia um tempo perdido, um tempo em que poderia estar ensaiando ou estudando. Assim, em meio ao caos de seus pensamentos, decidiu que precisava encontrar uma resposta.
Em uma tarde nublada, depois de um daqueles dias que começaram cinzentos e terminaram ainda piores, Pamela decidiu fazer algo que nunca havia feito antes: se permitir sentir. Sentou-se em seu canto favorito, um espaço no quintal rodeado por flores que ela mesma plantara, onde o cheiro da terra e a brisa leve poderiam lhe trazer alguma clareza. Com um caderno em mãos, começou a escrever. À medida que as palavras fluíam, seus medos se tornavam mais tangíveis; ela escrevia sobre os sonhos de ser veterinária, a paixão pela música, sua insegurança e sua força.
“Cantar me faz sentir viva”, ela escreveu. “Mas ninguém respeita uma artista em potencial. E se eu falhar? E se a faculdade não me deixar espaço para o que eu quero?”
No fundo, havia um desejo fervoroso de arriscar, de não se acomodar no caminho mais seguro. Ela sempre falava aos outros sobre seguir seus sonhos, mas agora comprovava que a teoria era muito mais fácil do que a prática.
Enquanto o sol começava a se pôr, colorindo o céu com tons de laranja e rosa, uma ideia iluminou sua mente: e se ela não precisasse escolher só um caminho? A possibilidade de mesclar as duas paixões começou a ganhar força. Talvez o concurso público pudesse ser um passo temporário, uma forma de se sustentar. Assim, poderia seguir a música sempre que quisesse, fazendo disso um escape ao invés de um sacrifício.
E, com essa nova perspectiva, Pamela começou a rir. Não havia razão para entrar em pânico. A vida era um contínuo de escolhas, e, no fundo, cada escolha era válida. Com um novo olhar, decidiu que estava pronta para dançar entre essas possibilidades, para ser uma artista e uma acadêmica. No final das contas, ser ou não ser não deveria ser uma questão de ou/ou, mas de ambas as coisas simultaneamente.
O coração de Pamela batia forte, não mais apenas de ansiedade, mas de esperança. Ela se levantou, sentiu a brisa leve tocar seu rosto e sorriu para o céu que, naquele momento, parecia dizer que tudo, ao final, daria certo.
Ser ou não ser (filosófica)
As posições do pensamento eram inúmeras, segundo Lívio Costa, um jovem programador apaixonado por filosofia. Ele buscava a verdade desde sempre, porém nem todo o caminho ele percorria. Em contrapartida, ele questionava a validade de suas crenças, mergulhando em estudos profundos. Pensar ou não pensar? Era um questionamento particular a ele, uma vez que via vantagem em não pensar em nada, esvaziar a mente. Mas sua natureza inquietante o levava a pensar sobre temas que pudessem levá-lo seguramente à verdade. A verdade das coisas era uma ânsia pessoal. Lívio Costa até pensou em criar um aplicativo que pudesse guiar pessoas nessa busca, mas lhe faltavam elementos da própria verdade que o corroborassem. Este era seu conflito e frustração: o paradoxo de buscar algo vital, mas temer o que tinha pela frente.
O paradoxo que assombrava Lívio Costa era, em essência, um reflexo da condição humana: a tensão entre o desejo de conhecer e o medo do desconhecido. Pensar ou não pensar? Essa questão, aparentemente simples, carregava consigo camadas profundas de significado. Para Livio, pensar era um ato de coragem, mas também de vulnerabilidade. Cada mergulho em suas reflexões filosóficas o aproximava de possíveis verdades, mas também o expunha ao risco de desestabilizar suas crenças mais arraigadas. E, no entanto, não pensar era igualmente perigoso, pois significava abrir mão daquilo que ele mais valorizava: a busca pelo entendimento.
Lívio percebia que sua mente era um campo de batalha entre a curiosidade e o conforto. Por um lado, ele ansiava por desvendar os mistérios da existência, questionando-se sobre o sentido da vida, a natureza da realidade e os limites do conhecimento humano. Por outro lado, havia uma voz sussurrante em seu íntimo que o alertava sobre os perigos de desbravar terrenos desconhecidos. E se a verdade fosse dolorosa? E se ela minasse suas convicções mais profundas? E se, ao final de toda essa busca, ele descobrisse que não há respostas definitivas, apenas mais perguntas?
Essa dualidade o levava a um estado de constante inquietação. Ele se via preso em um ciclo: quanto mais pensava, mais questionamentos surgiam; e quanto mais questionamentos, mais ele sentia a necessidade de pensar. Era como se sua mente fosse um labirinto do qual ele não conseguia escapar. E, no centro desse labirinto, estava a pergunta que o atormentava: valeria a pena continuar buscando a verdade, sabendo que ela poderia ser incômoda, ou seria melhor abraçar a ignorância e viver em paz?
A ideia de criar um aplicativo que guiasse as pessoas em sua busca pela verdade era, de certa forma, uma tentativa de externalizar seu conflito interno. Lívio imaginava uma ferramenta que pudesse ajudar outros a navegar pelas complexidades do pensamento filosófico, oferecendo caminhos e reflexões que ele próprio ainda não havia percorrido completamente. No entanto, ele se dava conta de que, para criar algo assim, seria necessário ter respostas mais claras — ou, pelo menos, uma metodologia confiável. E era justamente isso que lhe faltava. Como guiar os outros se ele próprio estava perdido em seu próprio labirinto de dúvidas?
Essa frustração o levava a questionar não apenas a validade de suas crenças, mas também a própria natureza da verdade. Será que a verdade era algo absoluto, que poderia ser alcançado por meio do pensamento racional? Ou seria ela relativa, moldada pelas experiências e perspectivas de cada indivíduo? E, mais importante ainda, será que a busca pela verdade era, em si mesma, um fim nobre, ou apenas uma forma de fugir da angústia da incerteza?
Em meio a essas reflexões, Lívio começou a perceber que talvez o paradoxo que o atormentava não fosse um problema a ser resolvido, mas sim uma característica intrínseca da condição humana. Pensar ou não pensar? Buscar a verdade ou temê-la? Essas perguntas, embora aparentemente opostas, talvez fossem dois lados da mesma moeda. A verdadeira sabedoria, ele começava a suspeitar, não estava em escolher um lado, mas em aprender a conviver com a tensão entre eles.
E assim, Lívio seguia em sua jornada, oscilando entre a luz da curiosidade e as sombras da dúvida. Ele sabia que, cedo ou tarde, teria que enfrentar o medo do desconhecido e mergulhar de cabeça na busca pela verdade. Mas, por enquanto, ele se permitia flutuar nesse limbo, aceitando que, às vezes, o ato de pensar — mesmo que não leve a respostas definitivas — já é, em si, um passo em direção ao autoconhecimento. E, quem sabe, essa poderia ser a maior verdade de todas.
Ser ou não ser (romântica)
“À Rosa dos meus devaneios temo me declarar; estou mais seguro no bunker de meu coração calado, mas quero poder amá-la com todo meu ardor.”
Talvez Ernesto quisesse dizer mais, era um poeta, sabia articular as palavras em verso, contudo tinha medo de se declarar a Rosa. Alimentava um amor platônico, amando a amiga de uma forma além da amizade que tinham. Era notório para ele que ela só o tinha como amigo, nada mais. Ou, de outro ponto de vista, era de fato muita coisa ser amado por ela como um fiel amigo, experiente na vida e dono de uma verve poética inspiradora, que realmente tirava Rosa do chão, fazendo-a ir além em suas emoções mais íntimas. Ernesto queria poder dizer a ela “eu te amo” de um jeito que pudesse se sobrepor à mera amizade, contudo se reservava ao ver que a moça não tinha olhos para ele como uma mulher. Amar ou não amar, era uma questão absolutamente dilacerante no peito de Ernesto. A dor do amor não correspondido parecia dominá-lo por completo, levando-o à posição de espectador de si próprio. Só não imaginava que, no dia do lançamento de seu primeiro livro de poemas, uma esperança acendeu e tomou conta de sua mente.
No dia do lançamento de seu primeiro livro de poemas, Ernesto estava envolto em uma mistura de euforia e ansiedade. O salão estava repleto de amigos, admiradores e curiosos, todos ali para celebrar suas palavras, que agora ganhavam vida nas páginas impressas. Mas, entre tantos rostos, só um importava: o de Rosa. Ela chegou tarde, como sempre fazia, com um vestido simples que, para ele, parecia tecido com a luz das estrelas. Seu sorriso era suave, mas suficiente para fazer o coração de Ernesto acelerar, como se fosse a primeira vez que a via.
Enquanto ele recitava seus versos, seus olhos buscavam os dela, tentando decifrar o que se escondia por trás daquele olhar sereno. Havia ali uma admiração genuína, ele sabia, mas seria possível que, em algum momento, ela visse além do amigo, além do poeta? Ernesto não conseguia evitar a esperança que brotava em seu peito, mesmo sabendo que era perigoso alimentá-la. Cada palavra que ele pronunciava era, de certa forma, uma confissão velada, um pedido silencioso para que ela entendesse o que ele não ousava dizer diretamente.
Quando a noite chegou ao fim, Rosa se aproximou dele, segurando um exemplar do livro com as páginas já marcadas por pequenas dobraduras. “Ernesto, seus poemas são incríveis”, ela disse, com um brilho nos olhos que ele nunca tinha visto antes. “Eles me fizeram sentir coisas que eu nem sabia que existiam em mim.” Ele sorriu, tentando disfarçar o turbilhão de emoções que aquelas palavras despertaram. “Fico feliz que tenham tocado você”, respondeu, a voz um pouco trêmula.
Houve um silêncio, breve mas intenso, como se o mundo parasse por um instante. Ernesto sentiu o impulso de finalmente dizer o que tanto guardava, de confessar que aqueles versos eram, em sua maioria, sobre ela. Mas, mais uma vez, o medo o paralisou. E se ela não correspondesse? E se tudo o que eles tinham se perdesse naquele momento? A dor da rejeição parecia mais assustadora do que a dor silenciosa de amar em segredo.
Rosa, no entanto, parecia hesitar também, como se estivesse à beira de dizer algo importante. Mas, antes que qualquer palavra pudesse ser pronunciada, um amigo comum se aproximou, quebrando o momento. “Ernesto, precisamos de você para uma foto!”, chamou, distraindo-os do que poderia ter sido um ponto de virada.
Enquanto se afastava, Ernesto sentiu um peso no peito. Amar ou não amar? A questão continuava a dilacerá-lo, mas agora com uma nova camada de complexidade. A esperança que acendera naquela noite era ao mesmo tempo um alívio e uma tortura. Ele sabia que, mais cedo ou mais tarde, teria que enfrentar a escolha: continuar amando em silêncio, com a possibilidade de nunca ser correspondido, ou arriscar tudo e revelar seu coração, mesmo que isso significasse perder o que já tinha.
E, enquanto observava Rosa rir com os amigos, Ernesto percebeu que talvez o verdadeiro conflito não fosse entre amar ou não amar, mas entre viver preso ao medo ou se libertar através da coragem de ser verdadeiro consigo mesmo. O amor, afinal, não era apenas sobre ser correspondido, mas sobre ser autêntico, mesmo que isso trouxesse dor. E, naquele momento, ele começou a entender que talvez a maior poesia que ele poderia escrever fosse a de sua própria vida, com todas as suas incertezas e vulnerabilidades. Isso seria matéria de seus novos poemas de amor. “Amante eu sou de uma rosa que quiçá um dia irá se abrir ao meu coração.”
Ser ou não ser (psicológica)
Havia sobrado somente Léa, a única sobrevivente de um acidente de trem em um distante vale. Um vale cortado por uma estrada de ferro sinuosa que fez o trem descarrilar a uma altura de cinquenta metros, levando a óbito três quartos dos ocupantes da composição. Léa era só uma menina de onze anos, que ficara órfã de um momento para outro e tudo aquilo gravou na sua memória como um mata-borrão. Agora, aos trinta e oito anos, e com alguns anos de terapia na bagagem, ela pensava em voltar ao local da tragédia e ver se conseguia encarar o trauma terrível de sua infância. Não estava segura disso, mas era ela que precisava decidir. Se fosse até lá, as lembranças dolorosas viriam novamente sem dó, todavia, se não se arriscasse a rememorar suas dores, ficaria assim amortecida, entre um choro e um sorriso, cambaleando com algo ainda não resolvido em sua vida.
Léa sabia que a decisão de voltar ao vale não era apenas sobre enfrentar o passado, mas sobre encontrar uma maneira de integrar aquela dor ao seu presente, de forma que ela pudesse, enfim, seguir em frente. A terapia a ajudou a entender que o ato de lembrar não era apenas um retorno ao sofrimento, mas uma oportunidade de ressignificação. No entanto, a ideia de reviver aqueles momentos ainda a assustava. Será que ela seria capaz de suportar o peso daquelas memórias outra vez? Ou seria melhor deixar o passado adormecido, como uma ferida cicatrizada, ainda que mal curada?
Ela passava noites em claro, imaginando o que encontraria ao retornar ao local. O vale, outrora um cenário de desolação e morte, ainda ecoaria os gritos e o barulho ensurdecedor do trem descarrilando? Ou seria apenas um lugar silencioso, onde a natureza havia se encarregado de cobrir as marcas da tragédia com uma nova camada de vida? Léa não sabia. Mas algo dentro dela insistia que precisava ir. Era como se uma parte de sua alma ainda estivesse presa naquele lugar, esperando por ela.
Ao mesmo tempo, Léa temia o que poderia descobrir sobre si mesma ao confrontar o passado. Será que ela seria capaz de perdoar a si mesma por ter sobrevivido, enquanto tantos outros não tiveram a mesma sorte? A culpa do sobrevivente era uma sombra que a acompanhava há anos, mesmo que racionalmente ela soubesse que não havia feito nada de errado. E se, ao voltar, ela percebesse que nunca foi realmente forte, mas apenas fugiu da dor por todos esses anos? Essas dúvidas a paralisavam, mas também a impulsionavam. Era como se ela estivesse diante de um abismo, e a única maneira de atravessá-lo fosse dar o primeiro passo.
Léa começou a se preparar para a jornada, não apenas fisicamente, mas emocionalmente. Ela sabia que não poderia simplesmente aparecer no vale sem antes se fortalecer internamente. Sua terapeuta a ajudou a criar estratégias para lidar com as emoções que poderiam surgir, e Léa passou a escrever em um diário, registrando seus medos, esperanças e expectativas. A escrita tornou-se uma forma de organizar seus pensamentos e de se conectar com a menina que ela fora, aquela que sobrevivera ao trauma, mas que ainda carregava as marcas invisíveis daquela noite.
Finalmente, o dia da viagem chegou. Léa sentiu um frio na espinha ao entrar no carro, mas também uma sensação de determinação que não sentia há muito tempo. Ela sabia que não estava indo apenas para o vale, mas para dentro de si mesma. Ao longo do caminho, as paisagens familiares a fizeram reviver fragmentos de memórias que ela pensava ter esquecido. O cheiro do ar, o som dos pássaros, a curvatura da estrada — tudo parecia conspirar para trazê-la de volta àquela época. Ela respirava fundo, tentando se manter presente, mas era difícil não se deixar levar pelas ondas de emoção que a inundavam.
Quando finalmente chegou ao vale, Léa parou o carro e ficou ali por um momento, apenas observando. O local era diferente do que ela lembrava. A natureza havia se apoderado de tudo, e o silêncio era quase absoluto. Ela desceu do carro e começou a caminhar lentamente, sentindo o chão sob seus pés, tentando se conectar com a terra e com o passado. Cada passo era uma mistura de medo e coragem, de dor e esperança.
Ao chegar ao local exato do acidente, Léa sentiu uma onda de emoção tão forte que quase a derrubou. Ela se ajoelhou no chão, deixando as lágrimas rolarem livremente. Era como se, finalmente, ela permitisse que a dor saísse, depois de anos contida. E, em meio ao choro, ela começou a falar. Falou com os pais, com as pessoas que haviam partido, com a menina que ela fora. Pediu perdão, agradeceu, desabafou. E, aos poucos, sentiu um peso sendo retirado de seus ombros.
Léa não sabia se aquela jornada a curaria completamente, mas ela sabia que havia dado um passo importante. Ao enfrentar o passado, ela estava escolhendo viver plenamente o presente. E, talvez, essa fosse a verdadeira essência do “ser ou não ser” — a coragem de encarar quem somos, com todas as nossas dores e memórias, e ainda assim escolher seguir em frente.
Ao deixar o vale, Léa sentiu uma paz que não conhecia há anos. Ela sabia que as memórias dolorosas sempre fariam parte dela, mas agora elas não a definiam mais. Ela era mais do que aquela tragédia. E, pela primeira vez em muito tempo, ela se permitiu acreditar que poderia ser feliz novamente. E foi.
Ser ou não ser (científica)
Aquilo era estarrecedor para Marcos. Um cenário de medo o assombrou quase que numa avalanche de gelo e ele parece ter despertado para uma nova realidade. Os perigos da descoberta revolucionária que poderia mudar o mundo circulavam pela sua aura e ele achou melhor ponderar. Consultou alguns livros, fórmulas, esboçou diagramas até que chegou a uma estranha representação de um hexágono. Poderia jurar que ele foi transportado para outras esferas, trazendo consigo uma espécie de concentração grave, como se seu pensamento estivesse colidindo com alguma coisa impeditiva. Era como se houvesse uma barreira mental que o impedia de explorar mais aquela descoberta. Mas ele queria explorar mais, precisava fazer isso e foi o que fez.
Marcos sentiu que estava à beira de algo monumental, algo que poderia redefinir não apenas sua existência, mas a própria trajetória da humanidade. O hexágono que ele havia desenhado não era apenas uma forma geométrica; era um portal, uma chave para um conhecimento que poderia ser tanto a salvação quanto a ruína. A dualidade “ser ou não ser” ecoava em sua mente, mas agora assumia uma nova roupagem: “explorar ou não explorar”. Era uma questão que transcendia o filosófico e adentrava o prático, o científico, o existencial.
Ele sabia que a história da humanidade era marcada por momentos em que a exploração do desconhecido havia levado a avanços extraordinários. O fogo, a eletricidade, a fissão nuclear — cada um desses descobrimentos carregava consigo um risco imenso, mas também uma promessa de progresso. No entanto, também havia exemplos sombrios, onde a exploração desmedida havia levado a catástrofes. Marcos não podia ignorar que sua descoberta poderia ser a próxima fronteira, mas também poderia ser o precipício.
A barreira mental que ele sentia não era apenas fruto de sua imaginação. Era como se o próprio universo estivesse impondo um limite, uma espécie de “sinal de alerta” cósmico. Mas Marcos era um cientista, e a curiosidade era sua força motriz. Ele não podia simplesmente recuar diante do desconhecido. Com um misto de temor e determinação, ele decidiu prosseguir.
Ele começou a decifrar os vértices do hexágono, cada um representando uma dimensão diferente do problema. Um vértice simbolizava a energia, outro a matéria, outro ainda o tempo. Havia também um vértice que parecia representar a consciência, e outro que ele não conseguia definir — algo que estava além de sua compreensão atual. Era como se o hexágono fosse um mapa, mas um mapa para um território que ainda não existia, ou que existia apenas em potencial.
À medida que mergulhava mais fundo, Marcos começou a perceber que a descoberta não era apenas sobre o que estava fora, no mundo físico, mas também sobre o que estava dentro, na mente humana. A exploração externa e a interna estavam intrinsecamente ligadas. Ele se viu confrontado com questões que iam além da ciência tradicional: o que é a consciência? Qual é o limite do conhecimento humano? Até onde podemos ir sem perder nossa essência?
E então, num momento de clareza quase dolorosa, Marcos percebeu que o verdadeiro risco não era explorar ou não explorar, mas sim como explorar. A humanidade sempre avançou enfrentando riscos, mas os maiores perigos não vinham do desconhecido em si, mas da forma como lidávamos com ele. A ética, a responsabilidade, o respeito pelo equilíbrio do universo — esses eram os verdadeiros desafios.
Com essa nova perspectiva, Marcos decidiu que continuaria sua exploração, mas com um olhar atento às consequências de cada passo. Ele não queria ser apenas um descobridor, mas um guardião do conhecimento. E assim, com o hexágono como seu guia, ele se preparou para adentrar uma nova era, onde “ser ou não ser” e “explorar ou não explorar” se fundiam em uma única questão: como ser humano em um universo que ainda guarda tantos segredos.
E, nesse momento, Marcos sentiu que não estava sozinho. Algo — ou alguém — parecia observá-lo, como se o próprio cosmos estivesse curioso para ver até onde ele iria. Era um sentimento ao mesmo tempo aterrador e inspirador, e Marcos sabia que, independentemente do que acontecesse, ele estava prestes a mudar o curso da história.
Ser ou não ser (dramática)
A luta de Maria de Lourdes era árdua. Sua saúde tinha sido alvejada de modo surpreendente ainda jovem. Trinta anos era jovem, ela concordava, mas seu diagnóstico veio de forma implacável: estava com câncer. A cura da doença em vários casos surpreendia também a ela, e isso lhe dava uma tremenda esperança. Mas o que fazer com as dores? Ela já sentia dores terríveis e foram elas que a levaram ao médico e, daí, depois de alguns exames, veio o diagnóstico. Era uma doença rara, descobriu depois de novos exames, e isso quase a levou a nocaute, passando a querer entregar os pontos e se entregar à escuridão da morte. Maria de Lourdes, no fundo, era forte e destemida. Não era só a juventude que ela ainda possuía que a fazia corajosa, mas o fato de que ouvia uma voz interior dizendo para ela lutar até o fim. Ela iria vencer como uma heroína. Contudo, havia ainda muita luta para ela lutar.
As noites eram mais longas desde que recebeu a notícia, e o relógio, em sua incessante marcha, parecia rir dela, do medo que brotava a cada instante. Entretanto, Maria de Lourdes sabia que, nesse embate, para cada lágrima derramada, havia uma gota de determinação a emergir. A batalha não era somente contra sua enfermidade, mas também contra a sensação de impotência que se apossava dela nos momentos de fraqueza.
“Viver ou morrer”, pensava, enquanto olhava pela janela de seu quarto, onde as árvores dançavam com o vento. Ali, em meio ao desespero, uma ideia fez-se forte como uma espada: “Ser ou não ser dramática?” Se, por um lado, a dor clamava por sua completa rendição, por outro, o eco de suas esperanças e seus sonhos ainda pulsava em seu coração. E cada respiração se tornava um ato heroico, um desafio àqueles que consideravam a morte uma derrota.
Ela decidiu que não seria a protagonista de uma tragédia, mas de uma épica jornada de superação. Suas batalhas cotidianas se tornaram triunfos singelos: conseguir levantar da cama, assistir a um pôr do sol, rir com um amigo, e até mesmo os momentos de choro profundo que, paradoxalmente, lhe davam alívio. Se viver era, de certa forma, um ato de rebeldia, então Maria de Lourdes tornava-se uma revolucionária.
Seguindo o conselho de seu médico, ela se aventurou em um tratamento que parecia mais uma montanha-russa do que uma solução – quimioterapia, sessões de fisioterapia, encontros com grupos de apoio. Ao lado de outros guerreiros como ela, Maria descobriu que cada história compartilhada era um lembrete de que não estava sozinha. Ali, entre risos e lágrimas, ela aprendeu a importância de ser vulnerável, uma fraqueza que se revelava força em sua essência pura.
A cada sessão de tratamento, à medida que o veneno corria por suas veias, ela chamava à luta a sua própria moral. “Hoje, eu escolho viver”, dizia em voz alta, como um mantra. As horas que se seguiam eram um teste não apenas de resistência física, mas também de coragem. O espelho, frequentemente, refletia não só os efeitos colaterais, mas a bravura que se intensificava em seus olhos.
Certa noite, enquanto repousava após mais uma sessão, Maria de Lourdes teve um sonho vívido em que se via em uma batalha épica, espada em punho, enfrentando monstros tomados pela escuridão. Ela sentia a adrenalina pulsar, e uma voz ecoava, chamando-a para seguir em frente. “Você tem o poder de mudar seu destino”, dizia a voz. Acordou com uma determinação renovada, entendendo que a verdadeira luta não era apenas por seu corpo, mas por seu espírito.
Então, Maria compreendeu que, em momentos de maior desespero, ela tinha em suas mãos a escolha de ser a heroína de sua própria narrativa. Se vivesse ou morresse, a essência de seu ser não se restringiria a um diagnóstico, mas se estenderia às vidas que tocou e às histórias que ajudou a contar. Era nessa junção de dor e esperança que ela realmente existia, e sabia que, independentemente do resultado de sua luta, a jornada já a havia transformado. Assim, com um sorriso e a força invisível que cada herói carrega, Maria de Lourdes decidiu continuar sua batalha, não para ser lembrada, mas para viver plenamente cada instante de sua luta.