Resenha: “A gente mira no amor e acerta na solidão” – A Anatomia de um Coração Desmontado

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Na poesia contemporânea, poucos títulos são tão autoexplicativos e certeiros quanto o de Ana Suy: “A gente mira no amor e acerta na solidão”. O livro, que se tornou um fenômeno nas redes sociais, é um exercício literário preciso e doloroso sobre como a busca mais universal do ser humano – o amor – pode ser a principal geradora de sua mais profunda sensação de desamparo: a solidão.

A genialidade da obra não está em tratar esses dois temas como opostos, mas como faces da mesma moeda, entrelaçados de forma indissociável. Ana Suy não os coloca em guerra; ela os apresenta em uma dança íntima e, por vezes, cruel.

O alvo desviado: A solidão no amor

O título do livro já entrega a tese central: o amor é um alvo que, ao ser mirado, quase inevitavelmente nos desvia para outro lugar. A solidão que Ana Suy explora não é a de quem está sozinho, mas a solidão a dois. É a sensação aguda de estar ao lado de alguém e sentir-se invisível, incompreendido ou um estranho dentro da própria relação. É a constatação de que o projeto de união falhou, e no seu lugar restou um vazio compartilhado, mas não preenchido.

Os versos são como raios-X de relacionamentos que perderam sua essência. Eles capturam a dor de um “eu te amo” não correspondido com a mesma intensidade, a angústia da rotina que substitui a paixão, e o silêncio que ocupa o espaço onde antes havia diálogo. A autora mira com precisão cirúrgica no momento em que o amor se torna um hábito vazio, e a pessoa que está ao seu lado torna-se a maior prova de que você está, de fato, só.

A mira persistente: O amor na solidão

Se por um lado a obra expõe a solidão como resultado do amor, por outro, ela também investiga o amor como uma força que persiste mesmo dentro da solidão.

Esta é a nuance mais bela e dolorosa do livro. Apesar da ferida, o desejo de amar não se apaga. A mira no amor continua, teimosa e esperançosa.

Os poemas falam de uma saudade que não é só da pessoa, mas do que se poderia ter sido. É o amor como memória, como cicatriz que ainda coça, como uma linguagem que o corpo não esqueceu. A solidão, neste contexto, não é a ausência de amor, mas a sua presença deformada, um eco que não se cala. A autora mostra que mesmo após “acertar na solidão”, o coração insiste em recalibrar sua mira, pois amar, mesmo sabendo dos riscos, é um impulso humano incontrolável.

Veredito final

“A gente mira no amor e acerta na solidão” é mais do que um livro de poemas; é um diário de bordo das almas que ousaram amar e, nesse processo, se perderam de si mesmas. Ana Suy possui um talento raro para transformar dores específicas em verdades universais. Sua linguagem é acessível, direta e visceral, conectando-se instantaneamente com quem já viveu o descompasso entre o que se esperava de uma relação e o que ela se tornou.

A obra não oferece respostas fáceis ou finais felizes convencionais. Em vez disso, ela valida um sentimento complexo: o de que amor e solidão não são destinos opostos, mas companheiros de uma mesma jornada. É um livro para ser lido, sublinhado e reconhecido. Um espelho para quem já se mirou no outro e, no reflexo, encontrou o próprio vazio – mas também a persistente coragem de mirar novamente.

Ler livro aqui.

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